quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Abraça-me - Joaquim Pessoa




Abraça-me. 


Quero ouvir o vento que vem da tua pele, e ver o sol nascer do intenso calor dos nossos corpos.



Quando me perfumo assim, em ti, nada existe a não ser este relâmpago feliz, esta maçã azul que foi colhida na palidez de todos os caminhos, e que ambos mordemos para provar o sabor que tem a carne incandescente das estrelas. 



Abraça-me. 



Veste o meu corpo de ti, para que em ti eu possa buscar o sentido dos sentidos, o sentido da vida. 



Procura-me com os teus antigos braços de criança, para desamarrar em mim a eternidade, essa soma formidável de todos os momentos livres que a um e a outro pertenceram. 



Abraça-me. 



Quero morrer de ti em mim, espantado de amor. 

Dá-me a beber, antes, a água dos teus beijos, para que possa levá-la comigo e oferecê-la aos astros pequeninos. 


Só essa água fará reconhecer o mais profundo, o mais intenso amor do universo, e eu quero que delem fiquem a saber até as estrelas mais antigas e brilhantes. 



Abraça-me. Uma vez só. Uma vez mais. 

Uma vez que nem sei se tu existes.


(Joaquim Pessoa)

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