segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Intolerância - O Tratado sobre a (in)Tolerância Otávio S. Rêgo Barros

 

Publicado no Correio Braziliense em 01.04.2022


O Tratado sobre a (in)Tolerância


Otávio Santana do Rêgo Barros

(General de Divisão da Reserva)


Em 9 de março de 1762, Jean Calas, um comerciante de tecidos radicado em Toulouse, pai de família justo e severo, foi executado por ordem do tribunal daquela cidade, sob a alegação de que assassinara seu filho, Marc-Antoine, por, supostamente, abjurar a causa calvinista e se converter ao catolicismo.

A França católica, em guerra com a Inglaterra protestante, vivia uma política repressiva, instaurada contra os huguenotes, que os obrigava a converter-se ou abandonar o país.

A acusação contra Jean Calas foi baseada em boatos falaciosos, alimentados pela vizinhança e por clérigos interesseiros.

O comerciante, velho e alquebrado, resistiu aos suplícios, perpetrados pelos golpes dos carrascos, e morreu sobre a roda — instrumento de tortura que esticava o condenado até que seus ossos se partissem —, clamando a Deus para testemunhar sua inocência e pedindo-lhe perdão por seus algozes.

Colocando-se contra essa barbárie e lutando em defesa da justiça à memória e à viúva de Calas, Voltaire publicou O tratado sobre a tolerância.

O filósofo atacava o fanatismo irracional que tomara as rédeas da sociedade e pregava a aceitação e o respeito ao próximo. Sua peça serviu como instrumento para que, três anos após a execução, o tribunal de Paris decretasse nula a sentença e restituísse os direitos religiosos e financeiros à família e aos outros envolvidos.

No capítulo, "se a tolerância é de direito natural e de direito humano", encontra-se a passagem mais substancial daquela obra:

"O grande princípio, o princípio universal de ambos (aqui ele compara o direito natural ao humano), é, em toda a Terra, o seguinte: Não faz para o outro aquilo que não gostarias que fizessem a ti".

"Ora, não vemos como, seguindo este princípio, um homem poderia dizer ao outro: Acredita nisso em que eu acredito, ou então morrerás[…]. Crê, ou repugnar-te-ei. Crê ou farei a ti todo o mal que puder. Monstro, não tens minha religião, então não tens religião alguma. Deves ficar em horror para teus vizinhos, para tua cidade, para a tua província."

O Tratado sobre a tolerância é um texto que permanece atual, atualíssimo. A intolerância graceja na imprensa, na política, na igreja, no local de trabalho, no esporte, entre colegas de profissão, entre amigos, entre familiares. Nem tocarei em mídias sociais, pois demandaria outro tratado.

Se não rezas da mesma cartilha da contraparte e defendes a mesma ideia, tens distorcido o correto sentido do que falastes.

A frase "acredita nisso em que eu acredito ou então morrerás", com adaptações para amenizá-la, se enquadra, em nosso tempo, para tudo o que fazemos, dizemos, pensamos.

Como atores preponderantes dessa guerra de consciência vemos as instituições agirem para acelerar a divisão.

A imprensa distorce em benefício dos acessos que se transformem em dinheiro de publicidade.

A política distorce em benefício do voto que lhe traga sinecuras.

A igreja distorce em benefício da conquista das almas dizimistas.

No trabalho se distorce em benefício de promoções não merecidas.

No esporte se distorce para deleite da tribo desordeira.

Entre colegas de profissão se distorce em benefício de visibilidade sabuja à chefia.

Entre amigos se distorce, entre familiares se distorce.

Ter uma opinião original é pecado capital.

O livro sobrevoa a tolerância desde a Grécia e a Roma antigas até o século 18, quando foi escrito, mostrando a perspectiva de cada época.

Destaca um homem irracional (pautado mais pela emoção) que também é interesseiro e invejoso (nesse caso, é racional), atributos sintetizados na intolerância.

Vivemos horas de angústia, que não são exclusivas ao nosso país, de incertezas, diante da convicção fanática e dos boatos falaciosos — semelhantes aos que fizeram Calas fenecer.

A persistir essa intransigência, deve-se temer, em futuro próximo, uma nova noite de São Bartolomeu — massacre de protestantes ocorrido em 1572, cujo número de vítimas atingiu dezenas de milhares.

Se estou sendo pessimista, peço-vos a indulgência e a compreensão em face de que também sou um (in)tolerante.

sábado, 14 de janeiro de 2023

Caminhada - Benefícios segundo os neurologistas

 


"Andar a pé expande o nosso poder cerebral, intensifica o fluxo de sangue para a cabeça, amplia a dimensão do hipocampo onde as memórias são armazenadas, melhora o desempenho cognitivo e promove o nascimento de novos neurônios e ideias. 


Um estudo de Stanford demonstrou que andar a pé, por apenas 20 minutos, até na esteira, provocou um aumento médio de 60% na geração de propostas inovadoras em exercícios de criatividade. 


A psicóloga Francine Shapiro observou que o movimento espontâneo dso olhos, de vasculhar o ambiente ao redor, nas caminhadas, desativava os pensamentos mais incômodos. Dessa descoberta, nasceu a terapia EMDR, em que os pacientes recontam as dores emocionais e movimentam os olhos rapidamnte de um lado para o outro simulando o movimento natural de uma caminhada. 


Estudos científicos sérios mostraram o quanto esse exercício é eficaz inclusive com veteranos de guerra, que têm traumas profundos. 


A neurociência por trás disso é que o momento lateral ocular desativa a amígdala, o centro de detecção de ameaças no cérebro permitindo que os pacientes processem emoções difíceis com mais receptividade, sem a reação defensiva do medo. Com o movimento dos olhos. 


O Dr. Andrew Huberman, neurocientista da faculdade de Stanford, diz que o movimento físico para frente,  essa ação, não só te recompensa mas suprime a atividade nas áreas cerebrais ligadas ao medo. É um mecanismo biológico ancestral." 

Estresse, Pandemia, Amígdala, PAUL MCKENNA

 

"Ao longo da pandemia, nos tornamos bons em nos treinar para considerar os piores cenários. E não é de admirar.

Por quase dois anos, uma parte antiga do nosso cérebro, chamada amígdala - que é onde processamos os sentimentos de ameaça e medo que desencadeiam uma resposta de luta ou fuga - tem recebido estímulos quase constantes, diz Paul McKenna (cientista comportamental).

Proteger-nos da Covid, bem como das pessoas que amamos, tornou-se o tema de fundo de nossas vidas. (...)

Imagine a amígdala como um botão. Quando é pressionado, você se sente ansioso, nervoso e ameaçado.

Conforme o tempo passa, esse botão começa a prender. Quanto mais frequentemente for pressionado, mais difícil se torna para reconfigurar. Eventualmente, ele se recusa a desligar.

É onde estamos agora: em um estado coletivo de alerta, lutando para desligar nossas respostas de lutar ou fugir. E está destruindo nosso bem-estar emocional.

De todas as técnicas que desenvolvi ao longo da minha carreira, acredito que as mais poderosas são aquelas que ajudam as pessoas a reduzir seus próprios níveis de estresse.

Todos nós sabemos o que é sentir-se tão abalado que não consegue pensar direito.

O estresse torna o pensamento racional muito mais difícil; Os piores cenários se desenrolam em sua cabeça muito mais vividamente do que qualquer um com um resultado positivo.

Além de ser mentalmente exaustivo, o estresse também nos impede de nos sentirmos criativos, otimistas e felizes.

(do Daily Mail, 01.01.2022)

The Outermost House - Henry Bestou - Sobre os Animais (Sofrimento)

THE OUTERMOST HOUSE - HENRY BESTOU


SOBRE OS ANIMAIS


"Em seu livro, The Outermost Housem Henry Bestou escreveu que nós precisamos de um conceito mais novo, sábio e talvez mais místico sobre os animais. Longe da natureza e vivendo através de artifícios complicados, o homem na civilização vigia as criaturas através do vidro do seu conhecimento e vê, portanto, os detalhes de uma pena mas uma imagem geral distorcida.


Nós os patroneamos por serem incompletos pelo seu trágido destino de terem se formado abaixo de nós. E nisto nós erramos gravemente pois os animais não podem ser avaliados pelo homem.


Num mundo mais velho e mais completo que o nosso, eles se movem completos e confiantes, dotados com extensões dos sentidos que nós permos ou nunca possuímos, guiando-se por vozes que nós nunca ouviremos. Eles não são irmãos, não são inferiores. Eles são outras nações, presos conosco na rede da vida e do tempo, prisioneiros do esplendor e trabalho da terra."